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Agronegócio e a Fé católica: a força da devoção na cotonicultura 

Conheça alguns dos testemunhos que se escondem na plantação das ‘’nuvens com raízes’’

                                                                                                                                (Foto: Kaio Ílic)

POR Kaio Ílic                                                                              

O ditado ‘’A fé move montanhas’’ costuma ser o lema vitorioso de muitas histórias brasileiras. Independente de qual seja a crença, colocar a fé como pilar da jornada pessoal, se torna um símbolo de força, transformando essa convicção numa das mais admiráveis e profundas relações existentes, a conexão entre o homem e o mundo espiritual. Quando se fala da fé católica e do agro, estamos nos referindo a um companheirismo de longa data e com grande significado para os que vivem e trabalham no cenário.  

No Oeste baiano, está localizada a cidade de Luís Eduardo Magalhães, conhecida por seu crescimento impulsionado pelo agronegócio e pelo grande desenvolvimento comercial que alcançou. No mesmo local, encontra-se a sede da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), responsável pela organização e representação da cotonicultura no estado. Atualmente, a Bahia ocupa a segunda posição entre os maiores produtores de algodão do Brasil. As lavouras de algodão abrangem 413.121 hectares, sendo 34% irrigados e 66% de sequeiro, o que resulta em uma produtividade de 4.665 kg/ha na safra de 2024/2025. E é nessa vasta produção que podemos encontrar lindas histórias de superação, fé e devoção. 

(Foto: Kaio Ílic)

Desde 2023 à frente da diretoria executiva da Associação, Gustavo Prado é um homem de fé declarado. Católico, não esconde sua devoção a Nossa Senhora, especialmente à Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Embora não se prenda a um único título mariano, demonstra profundo carinho e respeito por Maria em todas as suas manifestações. “Ela sempre passou à frente e foi abrindo portas para mim, não tenho a menor dúvida”, afirma. 

Na sua perspectiva, a espiritualidade não está distante da vida profissional, ao contrário, foi a fé que o guiou em diversos momentos de decisão, desde a escolha da carreira até sua chegada à Bahia. Com relatos marcantes que envolvem livramentos, acidentes e reviravoltas em sua trajetória, Gustavo é enfático ao dizer que nada foi por acaso. “Eu pensava em ser executivo, e quando olhei para o Instituto Brasileiro do Algodão, vi que minha jornada não tinha terminado. Eu queria estar aqui, na Bahia, porque sabia que os melhores projetos estavam aqui. Deus me trouxe”, diz. 

Além da sua vivência pessoal, Gustavo destaca o quanto a fé também está presente na vida dos produtores rurais da região. Para ele, espiritualidade e agricultura caminham juntas no campo baiano. “Todos têm fé. Todos fazem oração antes do almoço, antes do plantio e depois, no sucesso da colheita”, conta. Em eventos como o Farm Show, ele relata que sempre há uma capela e uma missa para abençoar o início das atividades. “Vai lá, ajoelha um pouquinho, agradece, faz um pedido… é assim mesmo. Os produtores estão sempre ali”, pontua.  

Essa conexão com o sagrado, segundo Gustavo, contribui para a união e humildade dos trabalhadores, o que, por sua vez, fortalece o setor. “Tem estados onde os produtores são mais fechados, arrogantes. Aqui não. Aqui eles são humildes, dão abertura, escutam, crescem.” Na visão dele, quem não dá espaço para Deus, também não dá espaço para crescer, seja no âmbito pessoal ou profissional.

Gustavo Prado, Diretor Executivo da Abapa (Foto: Kaio Ílic)

Gustavo Prado, Diretor Executivo da Abapa (Foto: Kaio Ílic)

Iniciando suas atividades na Bahia no final dos anos 1980, a Fazenda Busato, atualmente sob a presidência de Júlio Cézar, reconhece a importância do cooperativismo como força propulsora para o fortalecimento do setor agrícola. Participando ativamente da cooperativa da Abapa, a fazenda alcança seus objetivos por meio da eficiência, resultando na extração de fibras de alta qualidade, tanto para o mercado nacional quanto internacional.

Católico praticante, Júlio Cézar enfatiza que, no ambiente de trabalho, não há espaço para intolerância religiosa e que todos são livres para manifestar sua fé, independentemente de crença. “Eu diria que tenho devoção ao trabalho e dedicação, como todos aqui”, brinca. 

Júlio Cézar Busato, Sócio do Grupo Fazenda Busato (Foto: Kaio ílic)

Júlio Cézar Busato, Sócio do Grupo Fazenda Busato (Foto: Kaio ílic)

A Fazenda Busato alia tradição e inovação, adaptando suas práticas agrícolas aos recursos tecnológicos, desde o plantio até o beneficiamento, que inclui a separação das sementes, limpeza e compactação em fardos. A gerência de produção está sob os cuidados de Liezer Pinheiro, que preza pela atenção a cada detalhe do processo. Segundo ele, a fé e a oração também fazem parte da rotina dos trabalhadores:

“Essa preparação espiritual tem muito valor aqui. É algo importante. A gente faz orações após cada encontro, para que todos se sintam mais confortáveis e confiantes”, afirma.

Além da fé vivida e compartilhada no ambiente de trabalho, Liezer destaca a crescente preocupação da fazenda com a saúde mental dos colaboradores: “É algo que temos buscado fortalecer aqui dentro. A preparação psicológica. Estamos sempre atentos à saúde mental”, ressalta.

Devoto de Nossa Senhora de Guadalupe, Liezer compartilhou como a espiritualidade se tornou ainda mais presente em sua vida após um episódio pessoal marcante. Em um relato emocionado, contou: “Me afastei por um tempo da vida de oração. Mas, após um acidente que me fez fraturar o tornozelo, vivi uma experiência de contato com Deus, e especialmente com Nossa Senhora de Guadalupe. Foi um momento em que compreendi o quanto a fé e a oração são importantes. Hoje, consigo falar com mais clareza sobre isso, participo mais ativamente e tento mostrar aos meus colegas de trabalho o valor da espiritualidade no dia a dia.”

Lieze Pinheiro, Gerente de Produção da Fazenda Busato Cotton (Foto: Kaio Ílic)

Lieze Pinheiro, Gerente de Produção da Fazenda Busato Cotton (Foto: Kaio Ílic)

A conexão entre a fé católica e a agricultura brasileira é repleta de histórias profundas e inspiradoras. Nas planícies do Oeste baiano, onde até as nuvens parecem ter raízes, é possível encontrar testemunhos marcantes ao lado de muito profissionalismo. Em 2024, a produção média superou 1 milhão de toneladas. A cadeia produtiva do algodão tem transformado vidas e restaurado famílias, com mais de 41 mil cidadãos empregados diretamente. Por trás dos números, estão mãos que cultivam com excelência, mas que também se unem em oração nos momentos de fragilidade ou gratidão.

Dentro desse cenário, a cotonicultura baiana tem se consolidado como uma das principais forças do agronegócio brasileiro. Mais do que um polo produtivo, tornou-se parte da identidade do município. E com valores inegociáveis, a tendência é de crescimento contínuo, alicerçado em compromisso, ética, inovação e, é claro, muita fé e devoção.

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