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BaianaSystem abre Micareta de Feira pela primeira vez com show na Praça da Matriz

O show aconteceu na noite de 30 de abril, na Praça da Matriz, e reuniu artistas convidados e um público expressivo, marcando o início da festa com referências à cultura local e mensagens políticas.

BaianaSystem durante apresentação na Praça da Matriz, em Feira de Santana | Foto: Letícia Paixão

A Micareta de Feira de Santana, considerada a maior festa popular do município, ganhou novos contornos em 2025. Pela primeira vez, a abertura do evento ficou sob o comando da banda BaianaSystem, conhecida pela potência sonora e discurso político marcante. O show aconteceu na noite de quarta-feira, 30 de abril, na Praça da Matriz, como parte da programação extraoficial da festa, e foi marcado por encontros musicais simbólicos, homenagens às raízes culturais locais e um público envolvido do início ao fim.

Com participações especiais de nomes como Dionorina, Quixabeira da Matinha, Rachel Reis — que foi a primeira a subir ao palco — e o cantor soteropolitano Lazzo Matumbi, a noite celebrou as raízes culturais feirenses e reafirmou o papel político da arte.

Essa ligação com a identidade local ficou evidente nas palavras do vocalista do BaianaSystem, Russo Passapusso, que antes do show, concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, destacando as conexões afetivas e culturais que o ligam a Feira de Santana, cidade onde nasceu. “Eu tenho uma influência central na história de vida mesmo, que são as construções de enraizamento de todo o Brasil. Eu tenho uma história muito forte com a minha família por parte de pai. Então eu aprendi que a música se realiza em todos os lugares. Ela vem de África, ela bate em nosso coração com esse compasso que é o tambor, o coração é o nosso tambor, e a gente consegue fazer de tudo através dessas raízes, essas raízes que constroem a árvore por debaixo da terra. Então Feira de Santana me ensina isso, a ter várias pontas, várias raízes e não desistir nunca dessas influências”, explicou o cantor.

O show do BaianaSystem não apenas sacudiu o público com a mistura de guitarra baiana, dub, samba-reggae e sound system, como também foi um espaço de afirmação de ideias. O grito coletivo de “sem anistia”, puxado pela plateia, reafirmou o caráter político da apresentação. A frase, que se tornou marca registrada dos shows da banda desde os atos de 8 de janeiro de 2023, é uma manifestação contra os projetos que tentam anistiar os envolvidos na invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Essa potência crítica foi destacada por Alexandre Paim, psicólogo e espectador do show. Para ele, trazer uma banda como o BaianaSystem para a abertura da Micareta é um ato de reconhecimento do papel social da música.

“Ter BaianaSystem abrindo a Micareta de Feira ajuda a reposicioná-la como um evento político, no sentido de possibilidade de disputa de narrativas e de poder. Na minha visão, a banda cumpre a mesma função que o samba sempre cumpriu para o povo preto, que a Tropicália e seus desdobramentos cumpriram durante e após a ditadura militar, que o rock n’ roll de artistas como Cazuza, Renato Russo, Cássia Eller, cumpriu no pós-redemocratização, que o Dance e a cultura Drag cumprem para a população LGBTQIAPN+, e tantas outras”, pontuou Paim.

A conexão entre o BaianaSystem e o público presente se intensificou ao longo da apresentação, criando momentos de pura emoção coletiva. Entre as pessoas que acompanhavam o show de perto, Evelyn Monique destacou um instante específico que, para ela, simbolizou a entrega emocional e física do público à energia da banda.

“O show, por si só, já é emocionante, mas o que mais me impactou e emocionou foi quando ele abriu a roda, e toda a multidão se entregou junto. Foi, sem dúvida, o momento mais marcante da apresentação deles”, detalhou.

Para João França, estudante de jornalismo que assistiu ao show do BaianaSystem na Micareta, a apresentação representou uma valorização da identidade cultural local, muitas vezes negligenciada em eventos de grande porte.

“Foi um momento muito único. Feira é um berço de arte e cultura que, por muitas vezes, é silenciado por diversas razões sociais e econômicas, enfim. Mas ver artistas feirenses como Russo em cima do palco, falando e cantando pra Feira, alguém que já conquistou tanto na música pelo Brasil afora, voltar à terra natal e abrir aquela que é a maior festa da história da cidade foi muito representativo. Todo feirense que esteve lá, com certeza, jamais vai se esquecer daquela noite”, declarou.

Ao final da noite, ficou claro que a abertura da Micareta com o BaianaSystem foi mais do que um show. Foi um ato de retorno, reconhecimento e afirmação da cultura feirense, que busca seu espaço. O evento marcou o início da festa de forma representativa tanto para a cidade quanto para os feirenses.

Escrito por: Letícia Paixão

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