A adolescência é um período marcado pelas descobertas sobre identidade, desejos e sentimentos. É quando as dúvidas sobre si mesmo começam a ter a necessidade de serem respondidas. A autodescoberta sobre a sexualidade, por exemplo, é uma das principais questões quando se trata do assunto. Logo, como é possível entender algo quando ainda não se sabe nada ou pouco a respeito do tema?
Produções artísticas como filmes têm ajudado quando se trata de autodescoberta. O cinema, neste contexto, desempenha um papel necessário: explicar, por meio do audiovisual e a partir de uma história, como as coisas podem ser e acontecer. Produções como Hoje eu quero voltar sozinho, baseado no curta-metragem Eu não quero voltar sozinho, e My First Summer são exemplos de como o cinema pode ser um aliado, quando se trata de descobertas na adolescência.
Hoje eu quero voltar sozinho
Filme brasileiro, dirigido por Daniel Ribeiro, Hoje eu quero voltar sozinho conta a história de Leonardo, um adolescente cego que, como de costume, está em um momento de descobertas sobre seu primeiro amor. A partir da chegada de Gabriel na trama, um novo colega da turma, os dois se tornam amigos e vão se aproximando de maneira natural e cada vez mais participando da rotina um do outro.
Apesar de o tema central do filme focar na deficiência de Leo e na sua busca pela independência, a trama faz uma abordagem muito cuidadosa e sensível sobre a descoberta da sexualidade e dos sentimentos que a envolvem. É uma construção simbólica do que acontece, na maioria das vezes, quando adolescentes estão se descobrindo e tendo coragem de sentir seus sentimentos reais e que, durante muitos momentos, foram confusos.
O filme que, a princípio, era apenas um curta-metragem, foi muito bem acolhido pelo público que o consumiu e, por sua vez, quis saber como seria a história completa da produção. Para jovens da comunidade LGBTQIAPN+, a história de Leo e Gabriel reflete também em suas vidas reais e os ajudam a entender parte de um mundo que ainda não os havia sido apresentado.
My First Summer
O filme australiano My First Summer, de Katie Found, oferece uma abordagem um pouco mais delicada sobre o tema. A obra conta a história de Claudia, uma adolescente que vive isolada após a morte de sua mãe, mas é encontrada por Grace, que vira sua amiga e apresenta a Claudia um conforto que já não fazia mais parte da realidade da vida da amiga.
My First Summer é uma amostra de conexão e descoberta da sexualidade num contexto vulnerável e sensível. Na produção, todo o roteiro é cuidadoso e explora como as protagonistas constroem um espaço seguro para a relação delas e como elas confiam uma na outra.
Ele é, além de tudo, um retrato inocente, até, de como a descoberta pode acontecer de maneira natural, a partir de um momento confortável entre duas garotas que merecem explorar seus sentimentos e compartilhar suas dores.
Para jovens que se identificam com o relacionamento de Claudia e Grace, o filme pode ser um alívio emocional. Além disso, o cuidado como a história da relação das duas é contada durante o longa, reflete também na importância de relações sáficas, como representatividade para outras garotas da comunidade.
Como o cinema auxilia na autodescoberta?
Filmes como Hoje eu quero voltar sozinho e My First Summer são reflexos de que as obras artísticas podem ser um tipo de espelho para os adolescentes que os assistem e se identificam, conseguindo, a partir desse contato, ter um novo entendimento sobre si mesmo. A importância é, justamente, por poder roteirizar aquilo que, para eles, é uma experiência não vivida, na maioria das vezes.
O cinema permite que essas discussões passem através das telas e alcancem adolescentes que estão descobrindo sua sexualidade e, a partir daí, se compreendam, talvez, com uma facilidade maior. Essa representatividade é a base, inclusive, que ajuda que o público, no geral, tenha mentes menos preconceituosas. Abrir espaço para essas narrativas só mostra o quanto pode ser humanamente construtivo dar voz a produções mais inclusivas.
Escrito por: Raiane Natália