
No sábado da Micareta de Feira de Santana deste ano, o Cortejo Moviafro foi responsável por agitar o Circuito Maneca Ferreira. O desfile do bloco foi uma parceria realizada através do Programa Ouro Negro, uma iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), que concede apoio financeiro a entidades de matrizes africanas, como blocos afro, afoxés, grupos de samba, reggae e blocos de índio.
O desfile do cortejo tem como objetivo preservar, fomentar e potencializar a cultura de matriz africana na festa mais popular do município. Dessa forma, o cortejo torna-se mais evidente e acessível ao público. Val Conceição, representante do Moviafro, afirma que “ter o espetáculo incluso na programação oficial é a certeza de que o objetivo está sendo alcançado”.
Para este ano, o tema foi “Mães de Santo – Mães de Sangue”, trazendo à tona a relação entre as mães espirituais e as mães biológicas, destacando o que há de comum entre elas. A homenagem foi dedicada a duas mulheres negras importantes para a cena cultural e religiosa da cidade: Mãe Graça de Nanã, sacerdotisa do Terreiro Ilê Axé Gilodefan, e Dona Hildete, uma das matriarcas do Movimento Negro de Feira de Santana.
A cada ano o tema varia, e a escolha do próximo é algo delicado e de grande intimidade religiosa. “Geralmente os nossos temas são direcionados pela nossa ancestralidade. A gente ‘sonha’ e realiza”, explica Val Conceição.
Ao longo de quatro anos de trajetória, o Cortejo Moviafro vem se consolidando como uma expressão potente de ancestralidade e resistência. Em 2019, a homenagem foi a Obaluaê, Senhor da Terra e da Cura. Em 2023, o cortejo reverenciou as Mães das Águas. No ano seguinte, em 2024, o tema foi Ivannide Santa Bárbara e os Afros de Cá.
O Cortejo Moviafro se consolida de forma potente dentro da Micareta de Feira de Santana, não apenas por sua beleza estética, mas pela força simbólica que carrega. Ao reunir blocos afros e a comunidade em geral, a iniciativa transforma o circuito Maneca Ferreira em um espaço de celebração da ancestralidade, da fé e da resistência do povo negro. Em apenas quatro anos, o cortejo mostrou que ocupar a avenida também é uma forma de reescrever histórias e valorizar memórias muitas vezes silenciadas.
Como resumiu Val Conceição, com emoção: “Missão cumprida, sentimento de pertença, fé, amor. Acho que é isso”. E completou: “Esse sentimento coletivo, guiado por sonhos e orientações ancestrais, ultrapassa a festa e ecoa como um chamado à continuidade. A luta por espaço, respeito e visibilidade não se limita ao dia do desfile. Ela é permanente, feita de encontros, ensaios, homenagens e pontes que seguem sendo construídas todos os dias”.
Escrito por: Bruna Gomes