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O preço do “shape”: busca pelo corpo de fisiculturista nas redes ignora proibição médica e riscos graves

Crescimento da cultura bodybuilder normaliza o uso de esteroides entre jovens, mesmo após veto do Conselho Federal de Medicina. Especialistas alertam para danos irreversíveis ao coração e fígado

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Basta rolar o feed do Instagram ou do TikTok por alguns minutos para ser bombardeado por corpos extremamente musculosos, veias saltadas e a promessa de que a “disciplina” pode transformar qualquer físico. No entanto, por trás da hashtag #bodybuilding e da popularização do termo “suco”, gíria da internet para anabolizantes, esconde-se uma crise de saúde pública que preocupa médicos em todo o Brasil.

A busca pela hipertrofia a qualquer custo tem levado jovens a ignorar um marco regulatório importante: desde 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu expressamente a prescrição de anabolizantes e esteroides androgênicos para fins estéticos. A decisão foi baseada na ausência de comprovação científica sobre a segurança dessas substâncias quando usadas para ganho de massa muscular em pessoas saudáveis.

“Bomba, tô fora”

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) mantém uma campanha permanente de alerta chamada “Bomba, tô fora”. Segundo a entidade, os efeitos colaterais do uso indiscriminado vão muito além da acne ou da queda de cabelo.

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Para os homens, o uso prolongado pode causar atrofia dos testículos, infertilidade e aumento das mamas (ginecomastia). Já para as mulheres, os riscos incluem o engrossamento da voz, aumento do clitóris e irregularidade menstrual efeitos muitas vezes irreversíveis.

Essa obsessão por um padrão estético inatingível não afeta apenas o corpo, mas também a mente. Entenda como a pressão das redes sociais gera transtornos de imagem na nossa reportagem especial sobre dismorfia corporal.

Risco invisível e silencioso

O maior perigo, contudo, não é visível no espelho. O uso de doses suprafisiológicas de hormônios sobrecarrega o sistema cardiovascular. O CFM alerta que o uso estético está associado a um risco aumentado de infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca e morte súbita, mesmo em pacientes jovens e aparentemente saudáveis. O fígado é outro órgão vital que sofre, podendo desenvolver hepatite medicamentosa e tumores hepáticos.

Apesar da proibição médica, o mercado paralelo continua aquecido, impulsionado por influenciadores que minimizam os colaterais.

O outro lado da moeda

Enquanto o universo fitness masculino foca no ganho excessivo de volume, uma outra vertente estética cresce de forma assustadora, especialmente entre o público feminino: a busca pela magreza extrema induzida por medicamentos para diabetes.

Assim como os anabolizantes prometem músculos rápidos, as “canetas emagrecedoras” viraram febre para quem quer secar. Leia nossa matéria sobre os riscos do Ozempic e a banalização dos remédios controlados.

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Seja para crescer ou para emagrecer, o recado dos órgãos de saúde é unânime: não existe atalho seguro para a mudança corporal extrema. A construção de um corpo saudável exige tempo, treino e, principalmente, respeito aos limites da própria biologia.

Por: Apolo Rocha, Davi Araújo, David Pacheco, Juliana Barbosa e Rafaela Paim

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